"Brasília é construída na linha do horizonte. Brasília é artificial. Tão artificial como devia ter sido o mundo quando foi criado.
Se tirassem meu retrato em pé em Brasília, quando revelassem a fotografia só sairia a paisagem. Essa beleza assustadora, esta cidade traçada no ar.
A luz de Brasília me deixou cega. Esqueci os óculos escuros no hotel e fui invadida por uma terrível luz branca. Mas Brasília é vermelha. E é completamente nua. A luz de Brasília leva às vezes ao êxtase e à plenitude total.
Brasília parece uma inauguração.
Todos os dias é inaugurada.
Você me incomoda, ó gélida Brasília, pérola entre os porcos.
Oh apocalíptica.
Brasília é diferente. Brasília convida.
E se me convidam, eu atendo.
Prestem atenção ao que digo: Brasília não vai terminar nunca.
Eu morro e Brasília permanece.
Com nova gente, é claro. Brasília é novinha em folha.
Mas Brasília é esplendor.
Estou assustadíssma."
Trechos de Brasiliários de Clarice Lispector. Crônicas 1962/74.
Retirados de 'Abstrata Brasília Concreta' 2003. W. Hermuche p. 179
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
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